Lendo o segundo ensaio do livro da Betina González, A Obrigação de ser genial1 tive vários insights. O ensaio se chama: No princípio, tudo: sobre o começo de um romance. Ela explora um pouco o impulso inicial da escrita, até como um desejo obscuro, e comenta o fato de que é mais fácil continuar do que começar. Analisa vários inícios geniais da literatura, dentre eles temos Cem Anos de solidão, A hora da estrela e a Baleia, Moby Dick. Não tem como não gostar, não?
Com isso em mente, e com a minha própria obscuridade, e também com o material sensorial que me pertence, esbocei alguns inícios, alguns que já vagavam no meu caderno há um bom tempo, e outros diretamente tirados da cartola após a leitura.
São trechos aleatórios, puro exercício de escrita mesmo. Comentários são bem-vindos.
Ao passo que a caneta muda de cor, percebe-se que se escreveu demais. Onde eu estava tinha de escrever à mão. Ganhei um caderno e uma caneta, tive de pedir mais. Eu me lembro de tudo que escrevi. Lembro-me de todas as cartas que escrevi. Lembro da cor exata da caneta, das canetas, ia dormir com as mãos manchadas de tinta. Não importa quem não leu, alguns nem poderiam mesmo ler, mas o mais importante, era que eu não podia nada fazer além de escrever, falar naquele momento eu não podia. O que eu tinha eram imagens, e imagens não falam.
-E ninguém mais soube em que canto o Florian foi parar.
-Verdade que foi jogado do navio em alto mar?
-Sim.
-Jesus!
-Maria, essa menina tem os olhos dele – disse Don’Ana fazendo o sinal da cruz.
-O oceano não tem canto vó?
-Canto do que menina?
Não tenho problema nenhum de saúde, você acredita?! Eu não tenho porra nenhuma! E também não sou débil mental, não tenho nada na cabeça. Graças a Deus, eu agradeço todos os dias que eu não tenho absolutamente nada. Eu sempre ajudei as pessoas, eu não estou me, como é que fala, ah você é magnífica, não. Desculpa o desabafo, desculpa mesmo. Não! Não pergunto nada! Nada! Eu sempre fiz isso, eu sempre ajudei. Sempre! Você pensa que eu sou débil mental? Eu tenho noção das coisas, sempre tive! Bom, não interessa nada disso pra você, com certeza, mas é bom você saber, tá? Ninguém gosta de ser jogado de lado, tá? Problema seu, eu nunca falei nada. Para e pensa. Aí eu sou louca?
Eu sempre quis saber o nome da minha doença, não pensando numa possível cura, mas para poder nela colocar toda a culpa de ser quem eu sou.
Ei simplesmente amei esse post!
como eu amei que o oceano não tem canto! esse livro oh 😍🤯