Pensei em não começar o texto falando que não venho escrevendo aqui com frequência, mas acabei começando mesmo assim. Não é uma justificativa, mas como acabei de ler na página da Anni - Felicidade Clandestina, o tema perfeccionismo está em alta. Estou longe de ser, eu mesma, perfeccionista, porém não deixo de ser pré-ocupada. Por isso quando me comprometi a escrever ao menos uma vez por semana aqui, e preocupação me persegue. Nem tanto, porém, como vocês puderam notar. Tive de abrir mão da regularidade daqui para ter regularidade em outro setor da vida. São afinal, coisas da vida.
Colocando em dia as leituras aqui mesmo no Substack, eu lembrei de um assunto que me deixou triste. Um pouco atrasada consegui assistir o filme Divertidamente 2 (as Primas da Breite Strasse já fizeram inclusive uma TAG). Acho que não é spoiler, mas a tal da felicidade que já tinha causado no primeiro filme volta a causar no segundo, com a chegada de novas emoções. Mas tem uma frase do filme todo, que me deixou triste, quando a felicidade fala: “Talvez seja isso que aconteça quando se envelhece, sente-se menos felicidade”
Tentei refletir sobre isso, sem muito sucesso, afinal o tema felicidade vem sendo discutido com muito mais afinco desde a época dos grandes filósofos, até hoje com profissionais de Harvard.
Acho que fiquei triste com essa frase por constatar que ela é verdade, que talvez mesmo, quando se envelhece, sente-se menos felicidade. Talvez tenha me sentido triste por saber que meus filhos, ainda crianças, também passarão por isso.
Isso a felicidade já aprendeu, nos dois filmes, não tem como ser feliz o tempo todo, e ignorar os outros sentimentos é muito perigoso. Mas a felicidade está aí, misturada em tantas coisas, e o envelhecimento só torna a percepção dela mais difícil, assim como a idade traz um deterioramento ao corpo, traz também para essas percepções, seria como uma miopia de sentimentos.
Qual o segredo da felicidade? Prefiro pensar que ela está aí, no alcance de todos, “causando” em nossas cabeças, tentando lidar com todas as outras emoções, se fundindo em momentos.
Certas coisas não são passíveis de serem descritas. Momentos na vida que passam, momentos que são momentos, carregados de sentimentos perceptíveis somente para a alma, ou o quer que seja que nos apodera e nos faz viver. Coisas que escapam de explicações biológicas, lógicas, racionais. Faz-se o milagre da vida, surge o mistério da alma. Um simples objeto pode se tornar o alimento da alma, um apego, uma voz, um cheiro, um gosto, são os sentidos, não especificamente os sentidos do corpo, da carne, são os sentidos da alma. A alma traz em si a capacidade da liberdade de sentidos, o paladar, olfato, visão, tato e audição são os sentidos do corpo; da alma, são outros, inexplicáveis, às vezes ligados aos do corpo, mas não necessariamente. Esse é o sentido da vida, viver e sentir que existem momentos em que se é capaz de sentir a alma. Um fluxo, a alma é como um rio que corre, não importa estar fisicamente parado quando dentro de um rio, a água move-se continuamente, assim é a alma, move-se tal como um rio; percorre o corpo, porém, poucos são os momentos em que percebemos esse movimento tão sublime. São os momentos, os momentos indescritíveis que levam ao contato com a alma, com sua dança. A dança da alma, uma música que em silêncio nos move, o som da alma, movendo-se, ao sabor do momento, da sonoridade que lhe é imposta.