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O Motivo da minha ausência

Chegou o tão sonhado momento. Aquele em que eu escreveria novamente aqui e já seria uma maratonista. Algumas coisas demoram mais que outras, e está tudo bem.
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Meu comprometimento em escrever aqui toda semana, era, e é, na verdade uma troca, uma prática da escrita. Eu gosto de conversar muito sobre livros, e até por isso temos o Canal das Primas da Breite Strasse, onde lemos e conversamos sobre os livros e tem um pessoal muito legal que nos acompanha. Quanto à escrita, parece que o Substack é o novo local de encontro de quem gosta de escrever, e ler, também, é claro.

Minha querida amiga Marisinha, que tem uma página muito interessante aqui, escreveu outro dia sobre cartas, e sobre o mais importante das cartas, trocar palavras. Confesso que nunca tinha visto por esse lado, mas creio que aqui nesta plataforma, tem muito disso mesmo. Muitos posts que leio, de muita gente que aparece para ler o meu, e que me é indicado por alguém que eu já acompanho, tem o tom de um texto como correspondência. Como se o escrito, ficção ou não, de cunho experimental, ou simples troca de palavras atingisse o leitor e o fizesse refletir e gerasse uma vontade de responder. O que fazemos, nos comentários, mas mais do que isso, dá vontade de responder escrevendo um outro texto, ou uma outra carta.

A Maria Eduarda também escreveu um texto que fiquei com vontade de responder, que se chama o Vazio que ninguém ocupa -mas isso vai ficar para um próximo texto.

A minha volta aqui hoje requer uma comemoração, eu parei por um tempo por motivo de estar cansada demais para, afinal estava na reta final dos treinamentos para a minha tão sonhada primeira Maratona. A história é longa, desde 2020 tenho a inscrição para correr a Maratona de Berlin, passados 4 anos, vários percalços e uma grande perda, eu consegui. Passados os tenebrosos anos da pandemia, e eu e o marido fomos sorteados para 2023 e estávamos chegando ao fim de um ciclo de treinamentos quando meu pai teve uma convulsão e foi diagnosticado com um tumor na cabeça sem cura e que o levou ao cabo de 4 meses a óbito.

Só fui recomeçar a correr em janeiro de 2024 e já tinha utilizado a possibilidade de me inscrever novamente na maratona quando fiz o cancelamento em 2023. Se eu tinha vontade de correr? Nenhuma. Correr no frio, após tanto tempo, ... mas eu fiz o que tinha de fazer.

E fiz, com a ajuda e companhia do marido. E fiz com o treinamento e suporte do Gustavo Guedes da Corrida Perfeita que me acompanha desde as primeiras tentativas. E fiz ao longo do ano até chegar aqui, com a torcida da Arianne e da Malu (minhas Primas), com a ajuda da Sogrinha e do Sogrão e a torcida das crianças que viam os pais saírem para correr todo Domingo por no mínimo 2 horas (quando ainda estava fácil).

Como disse o treinador, e o que percebemos ao longo do ciclo, mesmo gostando de correr (o que não significa que tenha vontade na maioria esmagadora das vezes), que não é agradável ficar tanto tempo correndo. Mas a recompensa compensa. Ao menos nos treinos "normais", mesmo sem aquela vontade inicial, a volta sempre é boa, a famosa endorfina. E correr 42,195 km dá medo.

Eu tinha medo de dar algo errado, muito medo. Eu era medo e ao mesmo tempo coragem. Eu tinha medo de acontecer algo que não me permitisse terminar a prova, pane geral, cãibra, dor, sei lá. Eu tinha medo de cair (sim, já cai no primeiro km de uma meia maratona e corri os últimos 20 com as mãos e o ombro estourados (não me pergunte como consegui machucar somente estas partes) e com as pernas e joelhos intactos - meu marido canta I believe I can fly toda vez que falamos disso (faltou aquele emoji pensativo aqui). Eu tinha medo de ficar apertada para fazer xixi (tomar água demais), ou desidratar por tomar líquido de menos. Eu tinha medo, afinal não tinha corrido antes uma distância assim, mas tinha certeza de que eu tinha capacidade.

E eu corri, e eu terminei, e deu tudo certo, e foi difícil, muito difícil, e foi lindo. O dia estava lindo, nem frio, nem calor. Corri mais da metade da prova sem perceber, e o difícil chegou lá pelos 30km, mas a cabeça estava bem, e o foco era terminar e comemorar.

E escrevendo aqui hoje, eu lembro que sempre que um treino estava difícil, que eu pensava em parar, eu pensava, que difícil mesmo é não poder mais correr, ter uma limitação grande ou pequena, ou uma limitação definitiva. Estar vivo e sair para correr é fácil. Como relembrou a Malu uns dias atrás, nas palavras do Capitão Rodrigo, é bom estar vivo! O resto a gente dá um jeito.

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Autores
Tatiana Belanga Chicareli